Fotografia de Zito Colaço
ESPELHO MEU, ESPELHO MEU...
Olhando-me ao espelho, não me reconheço,
Tampouco sei e entendo, se tal foto mereço,
Procurando todos os ângulos e que possíveis,
Mesmo o de retro, ou outros menos credíveis.
Na medíocre conclusão de imagem, desisto
E olho, na contemplação do tempo, o tecto,
Assim ficando, como louco mirando o trem
E besta passeada por animais, que aí vem.
Talvez que, nalguma visão mais deformada,
Aviste a verdade, de outra tão deteriorada
E das piores aberrações alguma vez já vista,
A mais imperfeita aguarela, tela de artista.
Procuro, busco e rebusco e sem encontrar,
Com tudo à minha frente e sem enxergar,
Tal é o mísero estado da minha percepção
E em que não percebo a exposta condição.
Cego, é aquele que vendo nada quer ver
E não o outro, pois sem ver, no entender
Tudo vê, tanto que, provido da perfeição,
Utiliza o pensamento tacteante da razão.
O espelho é a obra-prima de quem busca
E de quem não se esconde no que ofusca,
De quem bebe na coragem e na vontade,
Semeando campos, caminhos da verdade...
E nunca se regala à mesa comendo frutos
Como seus, mas da transpiração de outros;
É essa alguma, visual ondulação distorcida,
Que longe deste meu corpo anda perdida...
Manuel Nunes Francisco
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