sexta-feira, 30 de abril de 2021

Quinta dos Ingleses, as árvores e os que lutam por elas.


Quinta dos Ingleses, as árvores e os que lutam por elas

Com os seus 52 hectares de matos, pinheiros bravos entre outras árvores e prados, casa de uma fauna variada – corvos, pintassilgos, coelhos … e no Verão há-que ouvir as cigarras - , a Quinta dos Ingleses é a última área verde significativa no litoral entre Lisboa e Cascais. 

 

 
Com a sua localização privilegiada, frente à praia de Carcavelos, parece um milagre que este lugar se mantenha verde, a única ilha natural sobrevivente no mar de betão que engoliu as outrora quintas agrícolas vizinhas que faziam do lugar uma área rural. A Quinta de São Gonçalo, a da Vinha, a do Paulo Jorge, a da Alagoa, São Miguel das Encostas… A única outra restante, a do Barão, também em breve será engolida na voragem... 
Se a Quinta dos Ingleses se mantém verde – e silenciosa o suficiente para salientar o som da flauta com que o Zito ali se cruzou -, não é por milagre. É por ser um lugar que bate forte no coração da população de Carcavelos e de Cascais, que desde 1960 tem lutado bravamente contra os projectos imobiliários que querem substituir o verde da Quinta pelo cinza do betão. 
Um desses grupos a que pertenço, o SOS Quinta dos Ingleses, organiza, de 1 de maio a 12 de junho, os “Sábados na Quinta”, sete tardes para mostrar todo o valor e potencial que a Quinta tem, e que é urgente valorizar e preservar.

 

Porém, do lado dos que ali querem construir (ou neste caso destruir), como “água mole em pedra dura” tem-se trilhado um caminho de sucesso, nos meandros da política local. Por isso este pinhal e mata estão hoje mais ameaçados do que nunca, sobretudo porque o município de Cascais se colocou totalmente do lado do construtor, recusando lutar pela expropriação exigida pela população, a única forma de salvar a Quinta.

 

Uma das últimas consultas públicas sobre o projecto que determina o futuro do espaço está a decorrer até 4 de maio. Mais de 8 mil pessoas já participaram manifestando-se contra, e não admira porquê. Para além de muitos habitantes ainda recordarem, com saudade, os piqueniques em família, passeios, corta-matos, acampamentos e tantas outras coisas vividas na quinta quando ela ainda era um lugar seguro (hoje não é devido ao abandono)… Hoje sabemos como preservar as árvores que restam nas áreas urbanas é fundamental para absorver o carbono que produzimos e para salvar o Mundo da asfixia das alterações climáticas. 

 

No Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos Sul (PPERUCS), o pomposo nome do tal projecto imobiliário, vê-se a dimensão do que se prevê para a Quinta dos Ingleses. Se o betão avançar dentro de 15 anos, restarão menos de 10 hectares da atual área verde. Praticamente só a que se situa no leito de cheia da Ribeira de Sassoeiros que a atravessa. O que restar será certamente reduzido a canteiros, alguns bancos de jardim e rega automática… Ou seja, adeus biodiversidade. 

 

Quem se opõe à destruição da quinta verde é sobretudo a população. Mas, também demasiados já a encaram como um facto consumado. Muitos mais deviam acreditar e agir hoje, enquanto estas as árvores ainda estão de pé!

 

Se gente suficiente, uma imensa multidão acreditar, e lutar, para que estas árvores se mantenham de pé, e para que ali nasça um parque urbano naturalizado e seguro, onde homem e Natureza possam conviver em paz… Impediremos o nascimento de mais uma parede de betão que só por milagre não contribuirá para afundar a maior praia da Linha de Cascais, fomentando ainda mais o avanço do mar. Mas é preciso que milhares acreditem nisto e lutem por estas árvores. Essa mobilização é que não tem sido fácil… 

 

E é pena porque além da Natureza, a Quinta dos Ingleses está cheia de Histórias…
O seu verdadeiro nome é Quinta Nova de Santo António, mas ficou conhecida como a “dos ingleses” desde que estes compraram a propriedade para ali instalarem o cabo submarino – que assegurou durante décadas as comunicações entre a Europa e a América. Desses tempos restam por toda a quinta ruínas arqueológicas, como as duas torres e os edifícios onde viviam e trabalhavam os funcionários, assim como o Colégio Saint Julian’s, que os ingleses fundaram para educar os filhos na língua mãe, e que ocupa até hoje o centro da propriedade. Reza a História também que foi nesta propriedade que teve lugar o primeiro jogo de futebol em território português. Ou não fossem “eles” ingleses. Só esta parte da história da Quinta era digna de ser contada num museu…

 

Mas ainda antes da chegada dos ingleses, a Quinta Nova de Santo António fora propriedade florestal e agrícola, produtora de cereais e do célebre vinho de Carcavelos, fomentado na região pelo Marquês de Pombal. 

 

A História da Quinta é longa e começou a ser polémica na década de 1960, quando a Associação Saint Julian’s, a quem ainda pertence a propriedade, quis rentabilizar os terrenos que, à beira mar, despertavam a cobiça do sector imobiliário. Para ali foi desenhado um projecto megalómano com dezenas de torres habitacionais, à semelhança do que se faria pela mesma altura na Costa da Caparica, Algarve, Litoral Norte… Erguer torres e mamarrachos era então muito moderno.  

 

Em volta, as históricas quintas agrícolas de Carcavelos foram sendo sacrificadas à modernidade e substituídas pelos bairros residenciais que hoje ocupam de forma contínua este território… o tal vinho generoso de Carcavelos que o Marquês criou, foi uma das vítimas, e desapareceu da freguesia que lhe deu nome, existindo hoje somente na vizinha Oeiras. 

 

A Quinta dos Ingleses, apesar do tal projecto é a única que se mantem verde, devido à teimosia de um punhado de habitantes, mas está mais ameaçada do que nunca. Em 2022 é a data limite para o arranque das obras que ditarão o seu fim. Restam-nos poucos meses para impedir o pior. 
Hoje é preciso que muitos acordem e se ergam para defender esta e outras “quintas” das máquinas, e do Homem!

Anabela Pereira Fernandes
SOS Quinta dos Ingleses




















 Fotografias Zito Colaço


Para mais informações: 

https://www.facebook.com/SOSQuintadosIngleses

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https://www.instagram.com/sos_quinta_dos_ingleses/

"Dias de tempestade e ao fundo a esperança"

Fotografia Zito Colaço


 Depois da tempestade, vem a bonança

O estado de desequilíbrio emocional acontece, normalmente, quando se dá o confronto com o facto dos nossos antigos recursos já não contribuírem para o nosso sucesso.

Como acontece, por exemplo, quando se fica desempregado (o cenário mudou e é agora necessário agir de modo diferente), quando nos confrontamos com um divórcio ou temos um diagnóstico de doença crónica, quando ainda descobrimos que, efetivamente, nunca gostamos da nossa profissão ou que “o que era suposto” nunca aconteceu…

Poderia enumerar uma lista de situações que nos levam a sentir em crise, desesperados, desesperançados e mesmo assim nunca conseguiria chegar a todas.

Cada uma destas situações, à sua maneira, requer uma rápida capacidade de adaptação ao novo, à mudança. Mudança de ponto de vista, de crença, de casa, de marido ou emprego.

Indo à origem da palavra da Crise, esta vem do grego e significa “decisão”, “eu decido, separo, julgo” mas segundo os chineses, “crise” significa “Oportunidade, ponto de mudança”. Face ao novo, é necessário que se faça um reajuste, uma desconstrução e reconstrução de conceitos e é nesta fase que o adulto, habituado a saber “gerir a sua vida” pode entrar em desequilíbrio emocional.

Num primeiro momento, o que define então um bom gestor de crises emocionais?

1.       Identifica o que foi perdido – por vezes é o mais complicado, por se estar ainda em fase de negação do mesmo.
2.       Identifica o que mudou – pode ir do estilo de vida, à ausência de alguém, a bens materiais…
3.       Identifica o que se ganhou – sempre que há uma perda, há um lado positivo dessa perda, que acaba por ser menosprezado, por estarmos demasiadamente envolvidos.
Num segundo momento é benéfico objetivar a mudança que se pretende. Usualmente em consultório o que se verifica é que as pessoas estão tão envolvidas na sua dor que têm muita dificuldade em conseguir ser objetivas quando se tratam de mudanças de comportamento.

Para tal há algumas dicas que podem facilitar este processo como:

– Tente recolher o máximo de informação sobre a nova situação ou condição (a que está ou aquela em que gostaria de estar);

– Verifique a disponibilidade de recursos (internos/externos) e/ou serviços, para que consiga ver se efetivamente há condições para mudar. Por vezes confrontamo-nos que não temos motivação, e é importante tentar entender porquê;

– Quais são as influências externas e internas que esta mudança vai ter nas nossas vidas?

– Faça uma lista das consequências positivas e negativas que a adoção do novo comportamento vai ter na sua vida.

Autor: Maria Palha

 

Como diria a Clarice Lispector “Dê os seus sapatos velhos…veja o mundo de outras perspetivas…”.