RESISTENTES
AO TEMPO
Palavras leva-as o vento. Ficam as
imagens. Talvez nem elas, porque se as variantes fúnebres dos clássicos também
são sombras, restam as memórias. Mas as memórias também não servem, só a vida,
chamem-na panteísmo, com A-Theos ou sem A, porque só aquela resiste à erosão e
vence a corrida do tempo. Diante do abismo, a Arriba Fóssil da Caparica
recorda-nos os precipícios rumo à transcendência. Do oceano infinito, batido
mar adentro, a pulsão primordial renasce na Mata dos Medos. A Mata
Mediterrânica, de pinheiros mansos e natureza bravia, é o sopro do Finisterra.
O silêncio.
A série RESISTENTES AO TEMPO tem como ponto de partida traçar um itinerário
para que o espectador entre numa viagem pela Mata Mediterrânica através de um
percurso imaginário que nos conduz pela área protegida da Arriba Fóssil da
Caparica.
Da Resistência como pulsão primordial
da natureza fascina-me este élan vitan presente na força pungente da Mata
Mediterrânica, uma sobrevivente que lutou contra ventos e marés para chegar
incólume até aos dias de hoje. Numa época de dificuldades sociais e económicas
à escala global, interessa-me também a resistência das árvores como arquétipo a
repercutir na civilização.
Interessa-me ainda a iconoclastia
imagética deste transfinito em que através da resistência os elementos se
metamorfoseiam num processo de corrente eléctrica. Do imago grego, é preciso
ver além da máscara fúnebre para entender a essência das coisas. Não pelas
coisas. Mas pelo que as enforma. Aquilo, além de toda a erosão. O silêncio, a
força e a vida da mata. Ou, como alguém lhe chamou, depois das águas
primordiais, a árvore da vida.
Texto Nuno Costa
Fotografias Zito Colaço
Texto Nuno Costa
Fotografias Zito Colaço
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