sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Floresta Mediterrânica - Capa


RESISTENTES AO TEMPO

Palavras leva-as o vento. Ficam as imagens. Talvez nem elas, porque se as variantes fúnebres dos clássicos também são sombras, restam as memórias. Mas as memórias também não servem, só a vida, chamem-na panteísmo, com A-Theos ou sem A, porque só aquela resiste à erosão e vence a corrida do tempo. Diante do abismo, a Arriba Fóssil da Caparica recorda-nos os precipícios rumo à transcendência. Do oceano infinito, batido mar adentro, a pulsão primordial renasce na Mata dos Medos. A Mata Mediterrânica, de pinheiros mansos e natureza bravia, é o sopro do Finisterra. O silêncio.

A série RESISTENTES AO TEMPO tem como ponto de partida traçar um itinerário para que o espectador entre numa viagem pela Mata Mediterrânica através de um percurso imaginário que nos conduz pela área protegida da Arriba Fóssil da Caparica.
 
Da Resistência como pulsão primordial da natureza fascina-me este élan vitan presente na força pungente da Mata Mediterrânica, uma sobrevivente que lutou contra ventos e marés para chegar incólume até aos dias de hoje. Numa época de dificuldades sociais e económicas à escala global, interessa-me também a resistência das árvores como arquétipo a repercutir na civilização.
Interessa-me ainda a iconoclastia imagética deste transfinito em que através da resistência os elementos se metamorfoseiam num processo de corrente eléctrica. Do imago grego, é preciso ver além da máscara fúnebre para entender a essência das coisas. Não pelas coisas. Mas pelo que as enforma. Aquilo, além de toda a erosão. O silêncio, a força e a vida da mata. Ou, como alguém lhe chamou, depois das águas primordiais, a árvore da vida.

Texto Nuno Costa
Fotografias Zito Colaço

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